segunda-feira, 10 de maio de 2010

COMO MAMÃE JÁ DIZIA


Quando o sol aponta cortando as palmas das carnaubeiras e a luz anuncia a alvorada, debruço-me num papel e na ponta da língua escrevo ao primeiro domingo de maio de 2010, minhas considerações. Não suporto mais vê a boiada rumo às capoeiras sentindo o cheio de esperançosas chuvas, da babuje ou quem sabe matar a sede na insalubre àgua do poço.
Sinto-me cada vez mais consciente de que Mamãe nasceu à frente do seu tempo, me deixou um tesouro precioso, a sutileza da verve poética.
Dizia-me solenemente antes da partida: - O chamariz continuará sendo o mesmo no manejo, basta zunir o megafone do circo com ofertas de pão. Os bordões das miúdas palavras como antigamente chegarão aos ouvidos do povo, fora a ilusão das cores juntas no mesmo alto falante. Aos que são órfão de mãe verdadeira e desatenta na busca do novo, rezo e nas horas que enfeitam os recantos e as musas cantam, prezo. Cada mãe presente é um presente de mãe, mesmo que precocemente.
Atento ao amor dos filhos, legado maior e sustança de carinho em toda vida. Dou um giro afoito e nos quatros cantos avisto, no encontro dos caminhos da bafejada terra, claramente fartarem-se na carência dos mais famintos, desaparecidos aparecerem ligeiramente para festa aguçando os olhos na mesa exposta. Na praça a reunião dos parentes, nas casas o centro da sala vira o centro de referência. Findadas as reuniões, serenatas e as ceias matutinas, chega-se a amorosa tardinha, de bingos democráticos em que a lira canta sorrateiramente, os burburinhos adentram as taperas, sobrados e lares alpendrados festejam votos. Enquanto isso na rede, escrevo, leio e vejo fotos de um velho retrato varzeano.
Mamãe já me dizia: Há motivos de sobra para seguirem adiante.

Escrito por Zelito Coringa

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